quinta-feira, 22 de maio de 2008

Tibetano budista ou budista tibetano?


A questão do Tibete tem sido vista no Ocidente como uma questão religiosa quando é eminentemente política. Aliás, os relatos da imprensa internacional sobre a violência recente evidenciaram que pelo menos uma parte da mobilização popular se dirigia contra populações migrantes e se poderia classificar no domínio das tensões interetnicas.
O líder religioso budista tibetano tem sido vista como um chefe de Estado exilado, mas não é. Nada me faz simpatizar com a ideia de que um Tibete independente a acontecer deva ser uma espécie de Estado pontifício com a hierarquia religiosa a administrar uma nação.
O Dalai Lama, deve dizer-se, tenta seguir a boa táctica política de um líder religioso. Quer que a China valorize o budismo e está disposto a que as questões de poder de Estado se mantenham na mão de Pequim desde que lhe dêem poder sobre as áreas que interessam à propagação das suas crenças religiosas, como a educação e os assuntos religiosos.
Do que leio sobre a entrevista que hoje deu em Londres parece que está interessado em ser actor político relevante enquanto tibetano budista e ter influência para além do Tibete enquanto budista tibetano. Portanto, à medida que a China se vai transformando de um Estado marxista-lenminista num capitalismo autoritário, o Dalai Lama vai espreitando a oportunidade de tratar da política da sua religião em vez de se confinar à da sua região.
Talvez os activistas pela independência do Tibete encontrem nesta entrevista e na defesa da "via intermédia" razões para repensarem a sua posição sobre o tema.