sábado, 6 de maio de 2006

Um olhar sobre as distritais do PS

No PS há uma regra não escrita que impede os membros do Governo de serem presidentes de distritais. Julgo que é um reflexo condicionado dos tempos em que, particularmente no PSD, os membros do governo com responsabilidades executivas distritais se prestavam a espectáculos pouco edificantes de confusão entre o interesse nacional e a política do fontanário.
Tal regra tem vantagens, quer porque as funções governamentais são muito absorventes e a vida partidária muito desregrada (intermináveis reuniões fora-de-horas, fins de semana sempre ocupados, etc.) tornando-se quase incompatível desempenhar bem ambas, quer porque dá ao Partido uma autonomia em relação ao Governo que pode ajudar a combate a tendência para o isolamento que quem tem funções executivas sempre corre o risco de ter.
Mas essa regra também tem desvantagens. Retira do poder partidário os quadros altamente qualificados que a própria direcção do partido considera necessários no governo. É contraditória com o facto de o Primeiro-Ministro ser o lider do orgão executivo nacional do partido. Enfraquece a relevância política do partido e reforça a ideia, já excessiva de que a política partidária é coisa imprópria de grandes políticos e da grande política. Ou seja, aumenta a pulsão localista e o fechamento sobre si próprias das estruturas partidárias.
Seja como for, nas eleições distritais do PS que conduziram aos congressos deste fim-de-semana, a regra foi totalmente cumprida. Pelas minhas contas, os socialistas elegeram para dirigir as suas 19 federações do continente, 10 Deputados, 7 Presidentes de Câmara, 1 Vereador e 1 Director Distrital da Segurança Social.
Em todo o caso, o poder une e o partido está quase totalmente pacificado internamente. Houve vários candidatos únicos, contam-se pelos dedos de uma mão as eleições realmente disputadas e apenas 1 Presidente em funções, recandidatando-se, perdeu as eleições.
Ou seja, estes indicadores sugerem que não serão as disputas internas que prejudicarão a tranquilidade necessária para fazer do Congresso Nacional que aí vem, se for essa a vontade de José Sócrates, um forum de discussão das políticas de longo prazo que os socialistas querem propor aos portugueses para irem além da mitigação dos efeitos adversos da conjuntura.