terça-feira, 20 de março de 2007

A crença nos almoços grátis?



É claro que há um debate, clássico, entre os que entendem que é preciso melhorar a cobertura dos sistemas de protecção social, mesmo que com o inerente aumento dos custos, e os que, pelo contrário, preferem reduzir os encargos, mesmo que, para isso, seja necessário reduzir a cobertura dos riscos garantida pelo sistema de protecção social . Em abstracto, quer uns, quer outros, poderiam, em consequência de escolhas políticas opostas, achar que um dado modelo poderia servir de exemplo para outro países: nuns casos por assegurar boa cobertura dos riscos sociais, noutros por não ser caro.

Mas, numa sondagem recentemente publicada pelo Eurobarómetro, há três questões que obtiveram dos portugueses e dos cidadãos dos "países do alargamento" respostas que, em conjunto, são perturbantes.

As três questões aqui retidas são:
1. Acha que o Estado-Providência fornece cobertura suficiente?
2. Acha que é demasiado caro?
3. Acha que poderia servir de modelo para outros países?


O primeiro gráfico é inteiramente previsível: aí aparece uma relação positiva entre os que reconhecem que, devido à alta cobertura que que oferecem, os sistemas dos seus países poderiam servir de modelo para outros países, e vice-versa. Dir-se-ia, pois, que os inquiridos preferem pagar o custos de sistemas de protecção social caros mas com graus elevados de protecção social.

No segundo gráfico, a relação entre as variáveis é menos clara. Ainda assim, os países cujos cidadãos acham que beneficiam duma elevada cobertura social não são os países mais críticos quanto aos custos do sistema. Pelo contrário, são os países, como Portugal, que acham - primeiro gráfico - que o Estado-Providência do seu país não garante uma cobertura suficiente e que não pode servir de modelo para outros que - segundo gráfico - entendem que o sistema é demasiado caro.

Como explicar este padrão de resposta? Estamos perante uma amostra que representa mal a opinião dos países? É o sistema desses países que cobra demais para o que fornece, isto é, é ineficiente? É porque a incipiência ou a "juventude" do sistema de protecção social ainda não permitiu a aprendizagem social suficiente para que, nesses países, seja mais baixa a proporção dos que crêem que podem ter um sistema de elevada protecção social sem os custos inerentes?