4 é mais que 3
Ainda no âmbito do debate sobre a produção científica das universidades, e por sugestão de um comentador, que se reencaminha, um contributo de João Vasconcelos e Costa intitulado “Cuidado com a Bibliometria”. E uns comentários mais, bem como algumas sugestões adaptadas ao relaxamento do Verão.
1. Durante a semana, multiplicaram-se as reacções, nas páginas do Público, ao exercício de Sousa Lobo. Na quarta-feira, Luís Reto, presidente do ISCTE, salientava as diferenças entre ciências sociais e ciências naturais no que aos modos de publicação diz respeito, enquanto Peter F. Lindley, director do ITQB, salientava os defeitos de uma média da produção de diferentes departamentos ou faculdades com produtividade variável. Na quinta, Fernando Pina, professor na FCT-UNL, em artigo intitulado “Ranking ou fraude?”, chamava a atenção para a incomparabilidade de revistas de diferentes qualidades e impacto, mas todas inseridas na base de dados do ISI, concluindo pela necessidade de um novo e mais rigoroso processo de avaliação das universidades, clamando “… sr. ministro, por favor, avaliação já”.
2. Perante todas estas críticas, a reacção. Na sexta-feira, Tiago Santos Pereira, do CES de Coimbra, negava, no Público, ter participado no “estudo” de Sousa Lobo, mas, por outro lado, perguntava, “se ‘contar não chega’, fica em aberto a questão de saber se ‘será útil?’”. Mais adiante, argumentava ainda: “é também num erro semelhante, ainda que simétrico, que podem incorrer as críticas ao presente estudo. Será que por questões metodológicas ou de enquadramento da apresentação de resultados se deve recusar a análise da produção científica portuguesa nesta base de dados internacional?”
Pois é, contar é útil, quanto mais não seja para se saber quantos dedos se tem na mão, ou quantos ovos pôs a galinha da vizinha. Mas contar o quê? Por exemplo, o número de patentes e concluir daí que Tiago Santos Pereira é pouco produtivo? É que é de erros primários deste tipo, é de gracinhas destas, que se fala quando se critica o trabalho de Sousa Lobo, não da dispensabilidade de mecanismos de avaliação internacionais. Pelo contrário, como concluía Fernando Pina, e aqui se subscreve, é urgente que o MCES estenda às universidades um modelo de avaliação similar ao que construiu para os centros de investigação. Não há, nesta posição, qualquer simetria com a de Sousa Lobo!
No sábado, e com o terreno preparado por Tiago dos Santos Pereira, a reacção continuava. José Manuel Fernandes, em editorial intitulado “Horror a factos simples”, proclamava, inocentemente, que “tais indicadores [os de Sousa Lobo], como todos os indicadores, são apenas alguns números…”. Pois é. Também posso fazer uma listagem ordenada de jornais em função da tiragem e concluir que o Público anda mal em termos de qualidade. Números simples, apenas alguns números. Que não usarei porque sei, como todos sabemos, que os números da tiragem dos jornais permitem medir muita coisa, mas não a qualidade dos jornais. Do mesmo modo que os indicadores de Sousa Lobo medirão muita coisa, mas não medem a qualidade da produção científica das universidades.
3. Talvez seja melhor não os levar muito a sério. E entrar no jogo. Se o que importa é, antes de mais, publicar em inglês, porquê trabalhar muito? Sempre se pode tentar cumprir os critérios sousalobistas por vias mais fáceis e, sobretudo muito mais divertidas. Por exemplo, utilizando o gerador de textos pós-modernos criado na sequência do famoso caso Sokal — The Postmodernism Generator. Ou, se trabalhar na área dos sistemas e tecnologias de informação, o SCIgen.
Desenvolvido por três estudantes do MIT (Jeremy Stribling, Max Krohn e Dan Aguayo), o SCIgen é, segundo palavras dos seus criadores, “a program that generates random Computer Science research papers, including graphs, figures, and citations”. Permitiu já, aos três, gerar uma comunicação à Conferência Mundial de Cibernética, aceite pelos organizadores. Na página do SCIgen encontrará ainda links para outros geradores de texto, como o Automatic Systems Research Topic or Paper Title Generator, que gera qualquer “topic suitable for research and as a title of your upcoming Systems paper”. Ou o EssayGenerator, que lhe permitirá obter, em inglês, um ensaio sobre não importa o quê. Eu experimentei, dando como tópico “science rankings” (eu sei que é um pouco ao lado). O ensaio assim obtido terminava com a frase “To conclude, science rankings is, to use the language of the streets ‘Super Cool’. It questions, it stimulates and is always fashionably late.” Embora gerada aleatoriamente, não me parece conclusão de pior qualidade do que muitas das dos sousalobistas…
Aproveite os links e entre na silly season. Este ano um pouco mais cedo, graças a Sousa Lobo, Tiago Santos Pereira e José Manuel Fernandes.