5,6% de 18 é 1
Coordenado por Luís Valadares Tavares (L.V.T.), foi publicamente apresentado o estudo intitulado “Melhor Estudo da Matemática em Portugal: Análise dos Resultados de Um Inquérito”. Apesar da repercussão mediática, o estudo vale nada.
1. Em primeiro lugar, os dados não prestam. No inquérito por questionário utilizado, confundem-se dados com opiniões, usam-se, como indicadores de medida, respostas não comparáveis e presume-se que o objecto de estudo se auto-explica. Alguns exemplos. Caracteriza-se o meio social de proveniência dos alunos perguntando-se a um professor “Como caracteriza o perfil dos alunos que fizerem o exame nacional de Matemática em 2004”, e dá-se como hipóteses de resposta enunciados do tipo “Maioria proveniente de meio social e económico com baixo nível educacional e baixo rendimento”. Avalia-se o contributo dos pais para a melhoria do estudo da matemática perguntando-se a um professor se “Considera que a Associação de Pais tem tido um papel activo em relação ao desempenho na Matemática?” e definindo-se como possibilidades de resposta “Não” e “Sim”. E, por fim, identificam-se os “factores explicativos” dos resultados nos exames de matemática perguntando-se a um professor… “Quais os principais factores explicativos?”. Pena os peixes não falarem: para se estudar biologia marítima passar-se-ia a perguntar a peixes e outros animais marinhos “quais os factores explicativos, no plano genético, de…”.
2. Em segundo lugar, a análise dos dados está tecnicamente errada. O modo como se recolheram os dados presume um estudo extensivo, isto é, o estudo de uma população ou amostra de grande dimensão com base em indicadores normalizados. As técnicas de análise estatística usadas também. Problema: o número de casos, isto é, de respostas ao questionário, é igual a 18! A partir daqui entramos no reino da anedota, com percentagens de 18 (5,6% de 18 é 1), cálculos de médias e de desvios-padrão, “análise discriminante” e afirmações pomposas e delirantes como “é interessante a heterogeneidade das avaliações” ou “a segunda linha da tabela 5 mostra-nos o tipo de factores ou iniciativas que se revelaram estatisticamente mais associados a cada tipo de resposta”. Fazer análise estatística como a que faz L.V.T. com 18 casos é uma demonstração lapidar de total incompetência técnica: serve para nada.
3. Por fim, a lata. Eu não sei projectar pontes, portanto, não o faço. L.V.T. não sabe estudar fenómenos sociais nem usar técnicas estatísticas elementares. Mas lata não lhe falta. Ao contrário do que afirma no Público de 19/07, em Educação nem tudo é relativo, nem tudo é discutível — como no projecto de pontes. Mas L.V.T. é, indiscutivelmente, um dos favoritos aos Ignóbeis do ano do Canhoto.