Confesso a minha incredulidade
A LUSA diz que José Sócrates e Marques Mendes chegaram a acordo sobre a limitação de mandatos autárquicos.
Para conseguir esta medida, o PS teve que desistir de juntar no mesmo pacote os Presidentes dos Governos Regionais e o Primeiro-Ministro e que aceitar adiar a entrada em vigor da lei.
A desistência, a bem dizer, não existe. Os três cargos só foram juntos pelo PS na mesma proposta para aplacar os seus próprios autarcas que julgavam que, como seria impossível dobrar Alberto João ao PSD, assim se livravam, sem custos, da limitação de mandatos.(Quem tiver dúvidas sobre as posições iniciais do PS pode consultar a Moção com base na qual Ferro Rodrigues foi eleito Secretário-Geral, o Programa Eleitoral do PS em 2002 ou recordar-se de uma célebre Comissão Política Nacional dos primeiros meses de 2003).
O adiamento foi uma cedência necessária. O PSD lembrou-se dela na última hora, provavelmente à espera de conseguir o velho passe de mágica que agradaria a gregos e a troianos. Diria que "não se mudam as regras durante o jogo", o PS estava obstinado e continuaria a "defender" a limitação de mandatos. E tudo ficaria na mesma!
O golpe de rins da Direcção do PS surpreendeu positivamente: recusou todos os pretextos em que poderia ter-se escudado para que esta importante medida de reforma do sistema político não avançasse.
As debilidades de última hora de Marques Mendes, que sempre se mostrou campeão da reforma do sistema político, demonstram que algo vai mal nas hostes.
Se o primeiro passo for dado, mais tarde ou mais cedo, alguém explicará que todos os argumentos que justificam a limitação de mandatos dos Presidentes de Câmara se aplicam aos Presidentes dos Governos Regionais.
Confesso, quer o meu regozijo por este passo, quer a minha incredulidade. Sempre pensei que esta medida ia emperrar num destes múltiplos argumentos formais que permitem a todos continuar a fazer-de-conta que querem o que realmente não desejam.