“Nós” e “eles” (corrigido)
Agora, sempre que se intervalam uns dias de férias com o trabalho, a escrita no Canhoto torna-se irregular.
Hoje, apenas uma pequena nota, ainda na ressaca da desilusão com a proposta do Governo de alterações à Lei da Nacionalidade.
Se alguma vez quisermos perceber a diferença entre direito de sangue e direito de solo, enquanto critérios de constituição da nacionalidade, pensemos nos usos que damos a expressões como “nós” e “eles”. Por exemplo, enquanto for possível, ao mesmo tempo, falar dos portugueses do século XIX como “nós” — quando se trata, obviamente, de “eles”, pois as gerações anteriores constituíam outras sociedades — e designar como “eles” os imigrantes que connosco partilham, hoje, o mesmo território e a mesma colectividade política — quando se trata, obviamente, de “nós”, isto é, de membros de uma mesma sociedade —, então será claro o predomínio de uma concepção da Nação baseada na primazia do direito de sangue sobre o direito de solo.
E como está, e bem, fora de causa “mudar as mentalidade” com programas (e campos) de reeducação, resta apenas a velha e comprovada solução institucionalista: mudar a lei para ir mudando a cultura.
Custa ver tantas oportunidades perdidas.