Nascidos para mandar
Amorim, Espírito Santo, BCP, Brisa, EDP, PT, Portugália e REN são os grupos económicos portugueses participantes no CCE, clube de grandes empresários da Europa do Sul apoiado por Durão Barroso. Há uma semana, o Expresso titulava como “Ultimato europeu” a notícia sobre as exigências de reforma económica e política apresentadas por este clube ao Governo português. Esta sexta-feira, aquele semanário repete o tom e titula “Sócrates tem de jantar”. Isto é, Sócrates TEM que convidar para jantar, regularmente, representantes da organização para se aconselhar em matéria económica. O tom é tudo: o primeiro-ministro português não os deveria ouvir, TEM que os ouvir. E regularmente. E já!
Será que funciona? Bastará subir o tom e ter poder de facto para fazer com sucesso ultimatos ao governo português? Ultimatos públicos para ser claro quem manda? Será que vamos passar a ter um duplo, e desigual, sistema de concertação social? Esperemos…
Para terminar, as pequenas histórias. Primeira: a CCE, o tal clube de pensamento económico composto por representantes de grandes grupos económicos, “não é político e sim um organismo técnico”. Como se vê pelos critérios da sua constituição! E pelas propostas que apresenta!
Segunda: a afirmação de que Portugal tem que despedir 150 mil funcionários públicos porque tem cinco vezes mais funcionários públicos do que o Reino Unido. Fonte? Não sabemos. Critérios? Não sabemos. Como não sabemos também quantos funcionários públicos a mais tem Portugal quando comparado, por exemplo, com a França, Alemanha, Finlândia ou Suécia. Enfim, pormenores técnicos irrelevantes num organismo que se autodefine como técnico.
E assim se faz política, precisamente quando se diz que não se faz política.