Declarações (não) surpreendentes
Em resposta à declaração do Paulo Pedroso, aqui divulgada na terça-feira, Souto Moura fez, pelo menos, duas afirmações à Lusa (06/12/05) que só não são surpreendentes porque já se banalizou a sua prestação de declarações surpreendentes.
A primeira constitui nova doutrina sobre o ónus da prova e a realização da investigação criminal (transferidos, ambos, para a responsabilidade de quem é suspeito ou acusado):
“…se continuam a afirmar a inocência e a dizer que isto é tudo uma construção e uma cabala porque é que em três anos nunca me trouxeram elementos por onde eu pudesse puxar para confirmar essa tese?”
A segunda constitui afirmação grave sobre as “resistências de todos os lados”, inaugurando nova modalidade de relacionamento entre Ministério Público e órgãos de soberania. Nenhum escapa:
“Quando surgiu a notícia no jornal Expresso [23 de Novembro de 2002] o país tremeu de alto a baixo, a Assembleia da República levantou-se em protesto, o Governo e o Presidente da República manifestaram-se. A partir do momento em que se começaram a detectar suspeitas em pessoas com poder, ninguém mais quis saber das crianças, nunca mais se falou do escândalo da Casa Pia, a preocupação foi dizer que a investigação foi disparatada.”
Esperam-se as reacções dos expressamente visados: Assembleia da República, Governo e Presidente da República.