segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Pedido de esclarecimento

Escrevi aqui sobre o regresso de Manuel Alegre ao Parlamento, gesto que, parece-me, simboliza a sua permanência no PS. Algo que acho o corolário racional do modo como decorreu tudo o que se passou em matéria de Presidenciais, pelo menos do ponto de vista de quem não embarcar em populismos à esquerda, em nome de uma hipotética democracia sem partidos.
Sabia que esse post ia gerar antipatias, quer nos intolerantes de dentro do PS que gostariam de o ver pelas costas, quer nos que se tentaram agarrar a um novo partido anti-partidos que conduziria o centro-esquerda de novo ao naufrágio que o PRD produziu (e que produziu o fenómeno Cavaco Silva).
Mas não percebi a reacção de pessoas que estimo e não me parecem ser de nenhum desses grupos. Talvez não tenham gostado da expressão "refrear" e nela tenham visto algo que não queria dizer. O significado político pretendido era este: Sócrates e Alegre têm que travar os extremistas entusiasmados que sempre surgem nas cortes dos líderes e fazer a reaproximação de que ambos beneficiam e de que o PS necessita para governar o país com o projecto que apresentou aos portugueses.
Aos esquecidos recordo que os vários comícios que fizeram juntos deram, então, um bom impulso à campanha eleitoral e fizeram poarte de um reposicionamento político do Secretário-Geral, patente em outros gestos e decisões, tal como na diferença, para melhor, do Programa de Governo que apresentou em relação à moção com que ganhou o Congresso.
A minha leitura das presidenciais está feita. Em termos políticos já a fiz aqui mais do que uma vez. Sobre os procedimentos, acrescento apenas que o PS escolheu o seu candidato presidencial como certas concelhias escolhem os candidatos às câmaras municipais. Não respeitou mecanismos básicos de preparação e consensualização de escolhas, não cuidou dos procedimentos adequados, gerou dois candidatos no seu seio e deixou-os seguir, a ver o que dava. É tudo dolorosamente simples. Deu o que deu. E o que é pior, pode voltar a acontecer a qualquer momento, se as coisas não mudarem e houver protagonistas disponíveis. Aliás, a tendência para enterrar o assunto sem mais discussões só ajuda a que assim seja.
Dito isto, caro Luis Tito, respeito-o muito, como sabe e não o imagino em nenhum dos grupos que gostaria de ver Alegre saír do PS. Explique-me porque acha a minha posição a de quem nada aprendeu com os acontecimentos. Para vermos em que discordamos e em que concordamos.