E com orgulho… !
Sábado passado (25/03/2006), no Público, Helena Matos queixava-se das caricaturas negativas que seriam produzidas (pela esquerda) para sustentar o que definia como “a ilusão progressista”. Queixava-se, porém, de barriga cheia, pois se há terreno em que neste momento a direita tem vantagem clara é no da guerra comunicacional sobre a política. Nomeadamente, a direita está a ganhar quando consegue transformar em insulto, ou pelo menos em termo depreciativo, os atributos da esquerda.
1. O problema não é nacional. No primeiro dia do Canhoto, publiquei um texto sobre o livro de Douglas S. Massey, Return of the “L” Word. A Liberal Vision for the New Century, onde este autor apela à esquerda americana para resistir à transformação do termo “liberal” (que nos EUA tem um sentido diferente do que lhe é dado na Europa) em insulto: “I will only consider this book a success if liberals in the future take pride in their liberalism. When tagged with the label «liberal» I want people not to shrink and dissemble but to answer back firmly: «Damned right I’m a liberal and this is what I stand for…».”
2. Em Portugal, estamos em vias de ver transformados em insulto termos como “laico”, “público” ou “estatal”, para já não falar na palavra “esquerda”, só tolerantemente admitida se acompanhada do adjectivo “moderna”. Nesta guerra comunicacional a única solução vencedora é afirmar claramente, quando desdenhosamente qualificado de “esquerda”: “sou de esquerda sim senhor, e com orgulho! E sou de esquerda porque entendo que o mercado não é uma vaca sagrada mas uma criação humana imperfeita que tem de ser regulada pelo Estado! De esquerda porque entendo que a igualdade de oportunidades depende da existência de serviços públicos de qualidade! Laico porque sei que sem separação entre Estado e Igreja não há condições de efectiva liberdade! De esquerda e laico, com orgulho…”