Espanha: os resultados das alternativas enérgicas
Penso que o futuro dos socialistas europeus passa pela sua capacidade de lutar contra o conformismo conservador. Aqui ao lado, em Espanha, José Luis Zapatero e o PSOE acumulam exemplos de como se pode trata questões que outros considerariam paralisantes propondo alternativas enérgicas.
Desde que o PSOE ganhou as eleições, só para falar das questoes de topo da agenda mediática, o contingente militar retirou do Iraque contra a vontade americana, o casamento de homossexuais foi instituido contra a força da Igreja Católica, foi proposto um novo estatuto para a Catalunha que contém palavras-tabu e a ETA declarou, hoje, um cessar-fogo incondicional, que Zapatero há muitos meses dizia, contra imobilismos vários, ser o primeiro passo para que se pudesse discutir a paz em Euskadi.
Em Espanha, as causas da esquerda moderna avançam. É certo que lá, ao contrário de cá, as rupturas foram sendo preparadas por compromissos públicos anteriores à vitória eleitoral.
Mas conheço muitas boas cabeças cépticas, por vezes tolhidas por ataques de cinismo, que achavam que uma destas medidas e um dos adversários atingidos era suficiente para destruír instantaneamente Zapatero.
De facto, para ter uma legislatura "à Zapatero" é necessário correr riscos, preparar plataformas políticas sólidas, com tempo e fazer escolhas difíceis. Mas a colheita justifica o esforço. As circunstâncias sobejamente conhecidas tornam difícil, se não impossível, que esta legislatura seja assim em Portugal. Mas a próxima pode sê-lo. Três anos sem eleições dão para aprofundar, com coragem, propostas de alternativas enérgicas. Fazê-lo ou não é uma questão de vontade e perfil político.