Israel/Palestina: o ciclo das raposas
Dos dois lados do "muro de segurança", o voto popular conferiu legitimidade a estratégias unilateralistas de resolução do conflito israelo-palestiniano.
Ontem, em Israel, os resultados eleitorais confirmaram o início de um novo ciclo de nem-paz-nem-guerra.
Os defensores das negociações directas e das soluções encontradas bilateralmente à mesa de negociação foram ultrapassados pelos pragmáticos de um entendimento no desentendimento. O cenário tem a vantagem de derrotar eleitoralmente os falcões do Likud, ontem humilhados e de retirar da confrontação terrorista o Hamas, agora responsável por administrar a Palestina.
Os que acreditaram na paz negociada e trouxeram de volta alguma paz a Israel e alguma autonomia à Palestina estão remetidos ao papel, ainda assim importante, de contrapeso político dos dois lados do conflito: o Hamas precisa do Presidente Abbas para manter a credibilidade internacional e o Kadima precisa dos trabalhistas para governar.
Depois de décadas alternando entre o poder das pombas e dos falcões, é possível que este ciclo corresponda a uma fase de conflito de baixa intensidade.
Neste periodo teremos provavelmente um Estado de Israel, dentro de fronteiras desenhadas unilateralmente e edificadas entremuros, dependente da capacidade de garantir um mínimo de segurança física aos cidadãos. Do outro lado da fronteira haverá uma autoridade palestiniana com um discurso redentor projectado num futuro sem data marcada, dependente da sua capacidade de atraír fundos e os administrar convenientemente por forma a garantir um mínimo de segurança material à população.
O sucesso do modelo exige que o duplo unilateralismo público esconda negociações intensas, embora escondidas. E exige muita flexibilidade táctica dos poderes moderadores externos, ou seja dos EUA no caso de Israel e de quem vier a ter influência sobre o Hamas, para garantir que a panela de pressão não rebenta. Por isso este é o ciclo das raposas.