Liberalismo ou indiferença?
LT, em “Sondagem” (n’O Insurgente), contesta os termos de uma sondagem sobre a proposta de compra do BPI pelo BCP (acha bem?) e propõe uma alternativa de resposta não contemplada:
“Não acho nem deixo de achar. Não tenho nada a ver com o que duas entidades privadas fazem ou deixam de fazer entre si. Há que deixar o mercado funcionar. Se as consequências para mim forem boas tanto melhor, se forem más mudo de banco.”
Em termos liberais, a contestação e a alternativa não fazem sentido.
Em primeiro lugar, porque se a concentração bancária for excessiva não lhe servirá de nada mudar de banco. Por isso, uma política económica liberal será sempre uma política de defesa da concorrência, com uma componente anti-trust. O que tendo que ser feito pelo Estado mostra bem a falácia de muitas das oposições absolutas mercado/Estado.
Em segundo lugar, a frase “não tenho nada a ver com o que duas entidades privadas fazem ou deixam de fazer entre si” não é fruto de uma posição liberal, mas de uma posição de indiferença. E a indiferença pode conduzir ao mais iliberal dos mundos. Na economia — liquidando o mercado — como na política — substituindo o debate crítico pelo relativismo absoluto.