667,2 SMN? Simplesmente pornográfico!
1. Julgo que nem mesmo o demagogo populista mais empedernido se atreveria a defender que um administrador executivo dum banco - ou de qualquer grande empresa! – deveria ganhar mal ou, sequer, assim-assim. E, pela minha parte, há muitos anos que estou mais preocupado com os que ganham mal do que com os que ganham bem. Mas há, julgo, limites que decência deveria impor.
2. De acordo com os dados publicados pelo BPI no documento de resposta à OPA do BCP, a remuneração média anual dum administrador executivo do BCP seria, em 2005, de 3,5 milhões de euros, isto é, mais de quatro vezes a dum seu colega do BPI. Isto significa que um administrador executivo do BCP ganhava há um ano, em média, qualquer coisa equivalente a 667,2 vezes o valor do salário mínimo nacional (SMN) desse ano, enquanto que um seu colega do BPI ganharia apenas 152,5 daquele valor.
3. Douglas Massey estima que, nos EUA, a relação entre os rendimentos dos CEO e os dos trabalhadores da produção terá passado de 25 para 1, em 1968, para 419 para 1 em 1999. Do lado de cá do Atlântico, a revista Alternatives Economiques estima, no seu número de Setembro de 2005, que os dez patrões mais bem pagos de França têm rendimentos que, sem considerar as stock-options, variam entre os 476 SMIC – o SMN francês – e 198 SMIC.
4. Mesmo sendo favorável ao pagamento do mérito e da responsabilidade – e eu sou! –, mesmo sabendo que vivemos no país mais desigual da União Europeia – e só não sabe quem não quer! - , mesmo defendendo – e eu defendo! - que os honorários do Presidente da República, dos Ministros ou dos Deputados não devem constituir barreiras intransponíveis para os níveis de remuneração das profissões liberais ou dos quadros e dirigentes empresariais , rendimentos como os dos administradores executivos do BCP carecem de explicações públicas que vão além da retórica habitual, que se limita a invocar o carácter privado dessas empresas para justificar o que as comparações nacionais e internacionais não permitem compreender.
5. É por estas e por outras semelhantes que - porque não creio que a decência deva ser monopólio do serviço público - faço parte dos que pensam que as declarações de impostos de todos os cidadãos deveriam ser públicas: pelo menos, ficávamos com algumas referências concretas para avaliar a genuinidade e o alcance das proclamações dos titulares destes níveis de rendimentos quanto ao bem comum e à coesão social do país de que são cidadãos.