Eu hoje acordei assim
Custou mas foi. Se agora é certo que a esquerda ganhou na câmara baixa (e com o prémio maioritário tem uma margem significativa de deputados), continua a ser incerto o resultado no senado (dependendo agora do voto dos emigrantes – seria interessante saber qual seria o resultado em Itália se os imigrantes votassem, tendo em conta que têm sido o bode expiatório de vários dos partidos de direita, lembrando que Haider foi uma brincadeira comparando com o que se passa em Itália, mas adiante – e dos sete senadores vitalícios).
No entanto, estas eleições servem para revelar que a Itália é um país completamente dividido por uma profunda clivagem. Não é novidade. No passado a clivagem esteve sempre mais ou menos presente e já nas últimas eleições o mesmo tinha acontecido. Então Berlusconi venceu porque a direita se coligou, enquanto a esquerda correu separada (a DS e Marguerita para um lado e os Radicais, Di Pietro e Refundação para outro). A verdade é que somados os votos dos partidos dos dois blocos, o resultado já era o que agora ocorreu. Pura e simplesmente não há grandes transferências de votos entre blocos e o que há é transferências internas aos blocos: maior oferta partidária faz com que um eleitor de direita que não queira votar na Força Itália possa fazê-lo, por exemplo, na UDC, como parece ter acontecido.
Nisto, Prodi tem um desafio grande à frente. Um desafio que na maior parte dos países é apenas retórica fácil: unir a Itália. Isto passa por fazer quase tudo ao contrário daquilo que foi a atitude quotidiana de Berlusconi, com as suas provocações ordinárias e baratas. Mas, para que tal seja possível, é preciso que Prodi possa governar. Há, desde já, duas condições necessárias. A primeira é que a esquerda, designadamente a Refundação, tenha juízo e não cometa os erros do passado, embalada pelo seu irrealismo. A segunda é que os deputados e senadores saibam colocar o interesse do país à frente de lógicas perversas de perpetuação de poder nas suas circunscrições. Nas negociações parlamentares, a Itália ainda é muito mais parecida com a Itália da Primeira República do que se possa pensar. Bem, a Itália ainda é muito mais parecida com a Itália da Primeira República do que se possa pensar. Ponto final. No fim, era fundamental que Berlusconi se afastasse da política. Era, entre outras coisas, um acto higiénico e positivo para a direita no médio prazo. Mas a loucura, como é sabido, dificilmente se auto-refreia.