Gente vulgar
Lisboetas, de 2004, realizado por Sérgio Tréfaut, é um filme sobre os novos imigrantes, narrado em jeito de documentário, que merece ser visto. A sua principal virtude é apresentar os imigrantes como “gente vulgar”, que trabalha, que estuda, que brinca, que tem saudades da terra, que namora, casa e tem filhos. Ao contrário das imagens do Correio da Manhã.
Gente, também, que enfrenta uma dose de problemas maior do que a “outra” gente vulgar, devido ao seu estatuto de estrangeiro. E é neste último domínio que se encontram as suas principais lacunas. Apesar da irritação que nos invade quando ouvimos a impertinência das perguntas dos burocratas que atendem os candidatos à legalização, apesar de algum choque com as imagens do funcionamento às claras do mercado de trabalho negro do Campo Grande, apesar da surpresa de uma outra Lisboa fora-de-horas, o filme só nos dá a ver uma versão light da dureza de muita da condição imigrante de estrangeiro, sobretudo quando esta é irregular. Em parte porque a “velha” imigração é aqui secundária.
No fim são mais as virtudes do que as lacunas, com imagens que poderão passar a fazer parte da nossa visão de Lisboa. E com pequenas frases incisivas, como a do sacerdote protestante: “não nos dão visto de trabalho, mas dão-nos trabalho”.
Pena que o novo lisboeta com cujo nascimento fecha o filme seja, mais do que provavelmente, um novo estrangeiro.