quarta-feira, 19 de julho de 2006

O que quer o exército israelita do Libano?

O fait-divers do pequeno-almoço de Bush intriga-me. Menos pela falta de sentido ético dos media - não esperava grande coisa por aí - do que porque fiquei com a sensação de que Bush sabe menos do que se passa do que devia. Não consigo engolir a teoria de que Israel se envolveu numa reacção desproporcionada ao rapto dos seus soldados, que não se sabe quando acaba.
A tradição da doutrina de defesa do país é de gestão da arte da retaliação, conseguindo manter por tempo prolongado conflitos de baixa intensidade alternados com acções cirúrgicas e espectaculares. Mas sempre com uma justificação plausível de defesa da integridade territorial, mesmo que discordando-se de todo o edifício em que se baseia.
Ninguém duvida, por outro lado, que Israel tem também precisão e avareza no manejamento das informações, conhecendo como nenhuma outra potência a relação de forças previsível na região. Algo se passa ou estava para se passar, acredito.
Pessoalmente acho que esta gigantesca operação militar vai acabar como começou, com um pretexto e que pelo caminho fez abortar uma ameaça nova e tida como séria pelos israelitas. Mas que tem uma causa com sentido estratégico claro. Que outra coisa se poderia esperar do Ministro da Defesa de Israel que, recorde-se, está muito longe de ter alinhado ao longo da sua vida com os falcões é um crítico do unilateralismo?
Nada do que escrevo minimiza a desumanidade do tratamento dos civis por parte de Israel. Infelizmente parece que, do lado dos exércitos, não é só o russo que mantém a tradição inaugurada na Guerra Civil de Espanha - e tão amplamente praticada na Segunda Guerra Mundial - de ter alvos na população civil. Parece que a vaga de terrorismo letal que atravessa o mundo está a fazer as democracias, em diversas latitudes, retroceder décadas.