sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Sexta-feira treze

Em sexta-feira treze estamos predispostos a pensar no azar. Imagine que é vítima de uma agressão, vai ao hospital e o médico da urgência dita a necessidade de internamento por cinco dias. O dia correu-lhe mal. Mas não tanto como correria se já houvesse taxa moderadora dos internamentos. Nesse caso teria que explicar ao médico que o seu orçamento é curto, não dá para perder os dias e pagar o internamento. Este, compreensivo, contrapropôe o tratamento ambulatório e tem que lhe responder que também não lhe dá jeito, porque já nem no cartão de crédito há saldo para um euro a mais e como está a recibos verdes já vai ficar sem ganhar pelo que no mês que vem a coisa ainda é pior. Ele não percebe e insiste que não se preocupe, que com a isenção de taxa moderadora para as pessoas mais pobres... e terá que lhe explicar que este mês está mesmo pobre, mas ganha mais de quinhentos euros mensais só que... pôs-se a comprar a casa e...
O médico não vai deixar as coisas ficar assim e contorna a situação com um internamento mais longo, assim já não paga. Quando esta história chegar aos ouvidos do Ministro, ele fica aborrecido com o efeito perverso de aumento dos dias de internamento ou, talvez, compreensivo, manda criar uma excepção para que as pessoas agredidas deixem de estar sujeitas à taxa, se e se...

O problema com as taxas moderadoras nos serviços de internamento é que dificilmente elas podem ser "medidas reguladoras do uso" como diz a Lei de Bases da Saúde e assim, neste serviço, esta nova taxa está nos limites da mudança de natureza da taxa moderadora, para além de introduzir uma taxa num tipo de cuidado de saúde em que acho que ela não devia existir, já que os cuidados de saúde não são todos iguais. Ou o Ministério da Saúde acha que os médicos ditam internamentos desnecessários clinicamente? Então a taxa moderadora de 5 euros/ dia cobre apenas uma gota de àgua do prejuízo e tem que se ir ao fundo e à causa da questão.