Gostas mais do teu pai ou da tua mãe?
Título do Expresso, 11/11/2006: “Nelly Furtado cada vez mais portuguesa”.
No interior uma entrevista com a cantora. Citação:
“P: Sente-se mais portuguesa do que canadiana?
R: Tenho passaporte canadiano e passaporte português. Mas acho que me sinto mais portuguesa, por causa das minhas raízes. Se bem que agora, como canto também em espanhol, me sinta muito latina. E ainda recebo muitas influências da West Coast.”
E assim se constrói e reconstrói uma concepção unidimensional das identidades individuais e colectivas. Na pergunta como no título, a adaptação daquela infeliz e terrífica pergunta: “Gostas mais do teu pai ou da tua mãe?”. Na resposta, a combinação entre a deferência para com o entrevistador e o mais importante, ou seja a declaração de uma identidade cada vez mais plural porque cruzando cada vez mais referências e pertenças. Ou seja, de uma identidade cada vez mais cosmopolita.
Não importa! Fundamental é o encarceramento de cada um numa identidade primordial. Independentemente dos efeitos perversos deste encarceramento, com demasiada facilidade traduzido em “identidades assassinas”, segundo Maalouf como segundo Amartya Sen, num livro recente deste último que se recomenda (e ao qual voltarei em texto mais desenvolvido): Identity and Violence. The Illusion of Destiny, Londres, Allen Lane, 2006.