Portugal é uma república teocrática?
É claro que a liberdade religiosa constitui um aspecto fundamental da liberdade individual.
É claro que o Cardeal Patriarca de Lisboa é uma figura religiosa de indiscutível primeiro plano e - mesmo para alguns dos que, como eu, não o conhecem pessoalmente – uma pessoa respeitável, digna e sensata.
Mas é igualmente que claro que, das 52 semanas do ano, escolher a que corre para lhe conceder tempo de antena para corrigir os erros da campanha do “não” e para fornecer o argumentário destinado aos grupos em que próprio Cardeal Patriarca admite haver uma percentagem elevada de votantes do “sim” no referendo sobre a despenalização da IVG, é um golpe baixo que só não seria de estranhar num Estado teocrático.
Não é o caso da República Portuguesa.
Por isso, o frete desta noite da RTP1 não pode passar sem protesto, público e laico como este canal de televisão se deveria orgulhar de ser.