Capturados pela história
Está em curso a votação das 7 “maravilhas de Portugal”. As 21 “maravilhas” finalistas incluem 8 templos, 7 fortificações, 4 palácios, os Paços da Universidade de Coimbra e as ruínas de Conímbriga. Ausentes: obras do século XX (ou mesmo do século XIX) e obras de interesse público pacífico e profano.
1. A incapacidade para nos maravilharmos com o que conseguimos fazer hoje é desanimadora. Nunca como no mundo contemporâneo se construiu tanto e com tanta eficácia e grandiosidade. Seria pois de esperar orgulho com a obra do presente. Mas não, capturados pela história voltamos costas ao presente, desistimos do futuro e sentamo-nos a contemplar passivamente o passado.
2. O menosprezo pela obra útil é chocante. Embasbacados perante templos e palácios, prolongamos a captura pela história com a reverência pelas hierarquias do passado, menosprezando a moderna democratização da obra monumental. O encantamento fica reservado para o passado e para o inacessível. Ou para a lenda guerreira. No país mais desigual da UE não fervilha o encantamento pelo bem comum.
3. O problema reside, aliás, na confusão entre património e maravilha: “Tudo começou com uma lista de 793 monumentos nacionais, classificados como tal pelo IPPAR”, informa a página “oficial” das 7 Maravilhas de Portugal.
4. Não vou votar nesta selecção realizada primeiro por “sete peritos”, depois por um “Conselho de Notáveis”. Em alternativa, proporei, nos próximos dias, uma lista de candidatos às 10 Maravilhas de Portugal. Dez e não sete, que é número com referentes mais racionais e menos cabalísticos. Dez obras de entre as muitas que, em parte, nos chegaram do passado, mas que, na sua maioria, foram construídas no último século. Dez obras profanas que contribuem para o bem comum mais do que para celebrar vaidades privadas. Dez maravilhas para nos maravilharmos com o que podemos fazer hoje para construir um presente e um futuro com mais desenvolvimento.