Maravilhas de Portugal #3
1. As barragens substituíram os aquedutos como parte visível e monumental das redes de infra-estruturas públicas: Castelo de Bode sucedeu às Águas Livres. E o engenho, monumentalidade e beleza foram assim incrementados.
2. Mas as barragens não serviram só para armazenar água (embora esta função vá ter, no futuro próximo, uma importante revalorização). Elas constituíram, sobretudo, uma peça-chave na industrialização das sociedades modernas, no sentido mais lato do termo: a electrificação não suportou nem suporta apenas a actividade fabril, mas a expansão da industrialização a toda a actividade económica e ao espaço doméstico. Hoje ainda mais do que ontem, com o desenvolvimento das novas tecnologias de informação.
3. No passado, o esforço de electrificação simbolizou como poucos o investimento no desenvolvimento. Mas a palavra desenvolvimento passou de moda, repudiada por neoliberais que consideram desnecessário qualquer esforço coordenado para optimizar os resultados sociais da expansão da actividade económica, e alvo de suspeita por ideólogos ambientalistas. Neste último caso, a depreciação da palavra foi mais subtil, passando pela subordinação do substantivo ao adjectivo: do desenvolvimento sustentado retém-se habitualmente o sustentado esquecendo-se o desenvolvimento.
4. Eu maravilho-me com o desenvolvimento, e as barragens são dele um símbolo simultaneamente monumental e belo. Em Portugal existem muitas grandes barragens, com múltiplas funções, que merecem ser nomeadas. Para além de Castelo de Bode, poderiam ser escolhidas, por motivos completamente diferentes, as da Aguieira, do Picote ou do Alqueva. Mas eu escolho a do Alto Lindoso, campeã das barragens portuguesas em termos de capacidade instalada de produção eléctrica, de uma altura (110m) esmagadora e de uma simplicidade monumental só comparável à da paisagem agreste que a rodeia.