Notícias do Paraíso
Não se sabia, mas temos o melhor ensino universitário do mundo. No que ao ensino superior diz respeito vivemos no paraíso, perdão, no Paraíso. Infelizmente, é um Paraíso que corre sérios riscos de corrupção, a curto prazo, em consequência da iniciativa do ministro da Ciência e do Ensino Superior, que “quer reconhecimento automático para licenciaturas e mestrados estrangeiros”. Inclusive, pasme-se, para as classificações obtidas nesses cursos (se calhar mesmo para os de Medicina feitos na República Checa). As reacções a tamanha desfaçatez foram prontas.
1. João Cunha e Serra, do Departamento do Ensino Superior da Fenprof, alerta para o facto de ser necessário ter “o cuidado de ver se os países em relação aos quais este sistema vai ser aplicado dispõem de agências de acreditação e avaliação credíveis”. Tem toda a razão, pois Portugal é, neste campo, exemplar, tendo tido nos últimos anos um fabuloso sistema de avaliação das universidades protagonizado pelos próprios interessados nos resultados da dita. Um paraíso...
2. Seabra Santos, Reitor de Coimbra e novo presidente do CRUP, vai mais longe, argumentando que “a mobilidade é uma exigência das sociedades e das universidades modernas, mas a qualidade também o é” e, na Europa “existem boas universidades e más universidades, piores do que existem cá, pelo que é preciso acautelar a qualidade”. Uma vez mais a razão está do lado da Reacção, perdão, da reacção, pois em Portugal TODAS as universidades são boas. E assim fica esclarecido o mistério da ausência de classificação final nas avaliações antes conduzidas pelo Cnaves: não era necessário distinguir claramente entre cursos avaliados porque eram todos igualmente de grande qualidade. O paraíso...
3. Seabra Santos junta ainda a sua voz à voz de Lopes da Silva (ex-reitor da Universidade Técnica de Lisboa e ex-presidente do CRUP) para reclamar que a reciprocidade deve ser condição fundamental do reconhecimento (tipo, só reconhecemos os diplomas concedidos pela Universidade de Cambridge se os bifes reconhecerem os diplomas concedidos pelo Instituto Superior de Ciências Educativas de Felgueiras). Magnífica reivindicação, pois a decência e a racionalidade não se podem sobrepor à defesa da Pátria -- e quem não o percebe não é bom benfiquista, perdão, patriota!
4. Só mesmo estes para me fazerem vir em defesa de uma iniciativa do ministro da Ciência e do Ensino Superior quando o que me apetecia era antes escrever um post a explicar que a política não pode ser uma charada...