CDS, partido unipessoal?
«Ele nunca é tão bom como quando está em campanha. Com um toque de maldade, dir-se-á que nunca é tão mau como quando é eleito. Por duas vezes, quando todos o davam como derrotado, triunfou magistralmente. Mas por duas vezes, como Presidente, falhou. O balanço dos dois mandatos é tão frouxo quanto foram brilhantes as suas vitórias». Esta frase, publicada no P2 de terça-feira, consta de um retrato do Presidente francês, Jacques Chirac, mas podia perfeitamente aplicar-se ao Presidente do CDS, Ribeiro e Castro. Dois anos e dois congressos depois, pouco ficou da sua acção à frente do CDS. Lembro-me de o ouvir dizer que tinha como prioridade de agenda «a defesa dos direitos humanos», recordo-me de uns tantos «almoços do caldas», organizados à pressa antes de apanhar o avião para Bruxelas. E pouco mais. Mas agora, acossado pela candidatura de Portas, e movido por uma espécie de vertigem erótico-eleitoral, aí está de novo o Ribeiro e Castro «animal feroz». Em duas semanas, já conseguiu colocar a questão política da liderança como uma questão de carácter; já lançou uma petição a favor da convocação do congresso; e ainda arranjou tempo para colocar numa das paredes do Largo do Caldas não apenas o retrato de Freitas do Amaral, mas igualmente o de Paulo Portas, também ele, afinal, um tesourinho deprimente da história do CDS. Ribeiro e Castro sabe que provavelmente vai perder, mas, ao contrário de Manuel Monteiro, não quer perder sozinho. A estratégia kamikaze é para continuar depois do congresso ou das directas. O tempo do «CDS, partido unipessoal de Paulo Portas» – característica que acabava por funcionar como vantagem eleitoral face à turbulência crónica do PSD – parece irremediavelmente encerrado.