My lord
Segundo João Carlos Espada, a transformação da Câmara dos Lordes num senado eleito “é muito decepcionante para os admiradores da tradição inglesa da liberdade”. Que a tradição fica ferida, de acordo, mas a liberdade?!
Para além de não ser eleita, a Câmara dos Lordes tem, para Espada, mais uma vantagem: “é incrivelmente barata. Os lordes não recebem salário”. Vantagem que se perderá com a selecção eleitoral dos membros do senado que substituirá a actual Câmara: “...será caríssima, pois vão ter de pagar salários aos novos lordes”.
Mais uma preciosa contribuição de Espada para a melhoria do sistema político e, simultaneamente, o saneamento das finanças públicas: acabar com o financiamento da actividade parlamentar impondo que os candidatos a deputados tenham meios para se manterem a si próprios. Noutras palavras, que sejam ricos.
Nada que não tivéssemos conhecido no passado. Quem nos mandou pois desprezar a tradição em nome da liberdade não tradicional?
O desaparecimento da Câmara dos Lordes é ainda lamentado por Espada como uma perca, pois a sua existência “constituía motivo de conversas divertidas e perplexidades inspiradoras”. Não diria melhor sobre um eventual desaparecimento das crónicas de João Carlos Espada.