quinta-feira, 5 de abril de 2007

JMF (corrigido)

José Manuel Fernandes (JMF), director do Público, admitiu que fez confusão:
Fiquei entretanto a saber que, no ISCTE, quando um aluno conclui com êxito o primeiro ano de um mestrado -- mesmo que não faça o segundo ano nem entregue a tese -- passa a ter equivalência a uma pós-graduação, o que, em Gestão, pode ser designado por MBA.

1. Claro que uma mente retorcida poderia ler, nas palavras de JMF, uma insinuação sobre as particularidades do ensino no ISCTE: “...fiquei... a saber que, no ISCTE...”. Sinceramente, não acredito. Não acredito que se trate de conspiração de JMF.
Acho que se trata de pura ignorância.
Ignorância de que em praticamente TODAS as universidades, e de há muito, a conclusão com êxito da componente escolar dos mestrados dá habitualmente direito a um diploma de pós-graduação.
Ignorância de que este procedimento é corrente nos países europeus.
Ignorância de que a certificação de toda a etapa de formação é uma recomendação que tende a ser adoptada no espaço da UE.
Ignorância de que a recente legislação sobre Bolonha alarga a possibilidade dessa certificação, no ensino superior, à conclusão com êxito dos dois primeiros anos de uma licenciatura ou do primeiro ano de um programa doutoral (embora, claro, com designações diferentes da de “pós-graduação”).

2. A ignorância é chata, sobretudo quando atrevida. No caso do jornalismo, porém, não é só chata, pois tem consequências perversas. Ou seja, a ignorância permite afirmações que atingem terceiros, prejudicando a sua imagem.
Não seria muito grave se, havendo mecanismos de penalização dos efeitos irresponsáveis da ignorância, esta não se manifestasse exuberante e frequentemente. Porém, nas intervenções recentes de JMF, a ignorância tem-se manifestado a par com a recusa de criação de mecanismos efectivos de responsabilização do trabalho jornalístico. Ou seja, JMF quer, para si e para os seus, um estatuto de irresponsabilidade que não evitará o florescimento da ignorância e dos seus efeitos perversos (isto porque não acredito que se trate de conspiração de JMF).

3. A reivindicação do estatuto de irresponsável em regime de total auto-regulação é um tique corporativo. Neste caso, o corporativismo em acção manifesta-se de modo muito curioso: a crítica dos efeitos perversos da ignorância é tratada como ataque à liberdade de informação, tornando na prática impotente quem se vê sob ataque de um qualquer JMF. Até porque, nessa reacção corporativa, é dada uma machadada radical em princípios fundamentais do estado de direito (isto porque não acredito que se trate de conspiração de JMF).

4. Exemplifiquemos mais este efeito perverso da ignorância atrevida de quem tem funções na comunicação social. Imaginemos que, por ignorância, JMF faz afirmações que mancham a honorabilidade de terceiros; este reaje; JMF contra-ataca exigindo que quem se sentiu prejudicado prove que não fez aquilo de que é acusado com base na sua interpretação ignorante da situação. Assim se inverte o ónus da prova e se aprofunda o regime corporativo de irresponsabilidade (isto porque não acredito que se trate de conspiração de JMF).

5. Quando titulei este texto, lembrei-me de outras iniciais: JFK.
Claro que JMF nada tem a ver com JFK. Está mesmo nas antípodas das conotações destas iniciais. Que lembram sempre a conspiração que levou à eliminação do presidente dos EUA.
Ora, como já repeti por várias vezes, não acredito que se trate de conspiração de JMF.
De certeza que se trata apenas dos efeitos acumulados da acção ignorante atrevida e irresponsável.