Os disparates da D.Isilda
O DN de hoje diz que Isilda Pegado, uma ex-Deputada do PSD à Assembleia da República, terá dito que:
1. A lei sobre a despenalização da IVG seria nula porque, dada a taxa de abstenção verificada, o "SIM" resultante do referendo que a precedeu não obrigava a AR a legislar no sentido da despenalização;
2. A legitimidade da decisão da AR seria comparável à de Salazar, que contou as abstenções como favoráveis à Constituição de 1993;
3. A decisão da AR seria um ataque ao Estado de Direito e à Constuição visto que aos votos do "NÃO" deveriam ter-se somado os três milhões de votos dos que, segundo o DN diz que Isilda Pegado disse, estão por nascer e rejeitariam o aborto ou a possibilidade de serem abortados.
Tomando como boa a descrição das declarações atribuídas a Isilda Pegado e aceitando a pureza lógica do raciocínio nelas implícito, concluir-se-ia que, afinal, Salazar não se limitou a espezinhar os critérios democráticos no referendo à Constituição de 1933.
O ditador terá feito pior: esqueceu-se dos que estavam por nascer. Se tivesse raciocinado como Isilda Pegado, escusava de contar com as abstenções: bastava-lhe contar com as Isildas Pegado, nascidas e por nascer, e assumir a certeza de conhecer o sentido do seus votos.
Brilhante, não é?