Morder o isco
A história do Professor destacado na DREN que foi suspenso e recambiado para a escola de origem (onde, parece, não estava há dezanove anos – o que não deixa de servir para nos questionarmos sobre o fenómeno dos professores destacados para os serviços centrais e regionais do Ministério da Educação) tem todo o ar de estar mal contada. Basta saber que muitas das direcções regionais dos Ministérios são lugares de poder partidário por excelência, para perceber que o que esta história esconde é provavelmente uma luta entre novos e velhos poderes nos serviços. A este propósito, não é nada irrelevante que o professor em causa tenha sido até há pouco deputado pelo PSD. Contudo, se continua a ser pouco claro o que aconteceu (e tende a parecer-me que o que tem sido apelidado de anedota sobre o primeiro-ministro será certamente um epifenómeno), uma coisa resulta simples: a directora-regional mordeu o isco. Foi provocada, provavelmente a sua liderança afrontada de modo sistemático e caiu numa esparrela fácil. Mas o facto de se tratar de uma esparrela não diminui em nada a sua responsabilidade. Pelo contrário, revela a sua fragilidade e, acima de tudo, revela falta de capacidade para ultrapassar os problemas e gerir com bom senso as dificuldades. E, no fim, o que é mais grave, ajuda a dar corpo à ideia, que se tem tornado surpreendentemente popular, de que se vive em Portugal um clima de pouco pluralismo e de diminuição das liberdades de expressão, só comparável ao Estado Novo. Uma ideia, aliás, que é violentamente insultuosa para aqueles que sofreram na pele a inexistência de liberdade de expressão.
Por tudo isto, contributos como o da directora-regional da DREN, entre o excesso de zelo e a falta de inteligência na gestão, são mesmo a última coisa que era necessária.