segunda-feira, 28 de maio de 2007

Treslendo o isco

O post que aqui escrevi há perto de uma semana a propósito do caso DREN foi alvo de todo o tipo de interpretações. Para vários blogues, foi lido como uma crítica ao comportamento da directora-regional de educação do norte, já Helena Matos e Paulo Tunhas viram nele uma espécie de justificacionismo. O que penso sobre o assunto resulta de duas coisas: aquilo que de facto sei, que é o que vem nos jornais, e o que se sabe sobre as estruturas regionais dos vários ministérios e em particular as do ministério da educação.
O que sei é que houve um professor que estava destacado na DREN e que foi suspenso por motivos disciplinares e recambiado para a sua escola de origem. Sei também que as estruturas regionais dos vários ministérios são palcos de lutas de poder, mais ou menos explícitas, entre os partidos do, como se usa dizer, “arco da governabilidade”. Nos organismos desconcentrados fora de Lisboa, isto é particularmente visível e na educação, onde, face à inexistência de um organismo nacional, os directores-regionais reportam directamente à tutela, a porta para a afirmação de micro-poderes fica ainda mais escancarada.
Perante isto, podemos enveredar por uma leitura maniqueísta da realidade – uma coisa muito em voga na actualidade – ou interpretar o que aconteceu à luz destas tendências. Tendo em conta que Fernando Charrua foi deputado do PSD, eleito pelo Porto e que Margarida Moreira é um quadro do aparelho do Porto do PS, escrevi que a anedota ou insulto ou lá o que seja seria apenas um epifenómeno de uma luta entre velhos e novos poderes nos serviços. Pensei que não era preciso fazer um grande esforço interpretativo para se perceber que a) acho que este clima de alternância de micro-poderes partidários nas estruturas regionais é perverso e a raíz deste tipo de problemas; b) que a atitude da DREN era estúpida e inqualificável. Agora, também não vale a pena fingir que vivemos num mundo de virgens (ofendidas) e que as coisas, por mais imbecis que sejam, ocorrem de modo descontextualizado.
Escrevi também, mas posso clarificar, que acho uma patetice de todo o tamanho a ideia que se vive um clima de censura e de diminuição do pluralismo – ideia aliás repetida ad nauseam por um conjunto de pessoas que, paradoxalmente, ocupa um espaço importante no espaço público opinativo – e que o caso DREN seria mais um exemplo disso mesmo. O contributo da directora-regional de educação é, por isso, a meu ver, desnecessário porque serve para dar solidez a uma falsa ideia. Aliás, tendo em conta o que se tem passado, acho que o mínimo que a senhora podia fazer era apresentar a sua demissão.
Finalmente, enquanto Helena Matos utiliza o meu post como “exemplo de como certos sectores socialistas reagem quando são confrontados com os abusos de poder deste governo”, Paulo Tunhas opta por fazer umas comparações entre o que escrevi e o que se passa na Venezuela de Chávez, ao que acrescenta umas insinuações sobre eu ser assessor de alguém que nem conheço. Sobre isso, só quero dizer que não tenho por hábito escrever o que quer que seja para agradar a este ou àquele sector e que nunca me deixa de espantar a facilidade com que os fundamentalistas ideológicos de todos os campos resvalam para o ataque de carácter mesquinho. Mas compreende-se, é difícil avaliar o comportamento dos outros à luz de padrões diferentes dos nossos.