Para além do “sistema”
1. Todos conhecemos o célebre “sistema” para o qual se remetem todas as culpas quando se querem culpas sem culpados: “é o sistema!”. Por outro lado, todos os que conhecem o abc das ciências sociais sabem que os sistemas condicionam positiva ou negativamente o que podemos fazer mas nada fazem ou pensam, pois não são gente (não sendo, por isso, culpabilizáveis). Portanto, quando se querem apurar responsabilidades de actos concretos convém procurar entre quem verdadeiramente actua. E quando essas responsabilidades são mais globais convém procurar entre quem tem capacidade para actuar mais globalmente. Porque, convém sublinhar, há quem só tenha capacidade para actual localmente e há quem tenha capacidade para actual globalmente — aqueles a quem Nicos Mouzelis, um dos mais interessantes sociólogos em actividade, chama os “megactores” (“indivíduos singulares cujo poder económico, político ou cultural faz com que as consequências das suas decisões tenham uma ampla repercussão”).
2. A identificação dos megactores que integrariam uma elite global contemporânea constitui o objectivo de David Rothkopf em Superclass. The Global Power Elite and the World They Are Making (Nova Iorque, Farrar, Straus and Giroux, 2008), descoberto através da página de The Carnegie Endowment for International Peace. Não sei o que vale, mas a apresentação sugere que talvez mereça uma espreitadela. Citando:
“They number six thousand on a planet of six billion. […] They are the global superclass, and they are shaping the history of our time. […] Today’s superclass has achieved unprecedented levels of wealth and power. They have globalized more rapidly than any other group. But do they have more in common with one another than with their own countrymen, as nationalist critics have argued? They control globalization more than anyone else. But has their influence fed the growing economic and social inequity that divides the world? […] Drawn from scores of exclusive interviews and extensive original reporting, Superclass answers all of these questions and more.”