Buzinão contra o mundo
1. Não há política sustentável de contenção dos preços do petróleo. Estes subirão por efeito da maior procura e dos custos crescentes de extracção, pelo que qualquer contenção subsidiando os preços implicará gastos crescentes do orçamento. E porque há sempre escolhas, pois o orçamento é finito, quem propõe medidas como a do “gasóleo profissional” coloca-se, objectivamente, do lado dos que entendem como subsidiárias as funções sociais e modernizadoras do Estado. Um orçamento sustentável num mundo sustentável é incompatível com o “gasóleo profissional”.
2. Sendo o petróleo um recurso finito, e portanto em extinção num dia cada vez mais próximo, um protesto contra o aumento dos preços do petróleo é um protesto contra a finitude do mundo. Um “buzinão contra o aumento dos combustíveis” é como um buzinão contra a morte por envelhecimento, uma recusa dos limites materiais da existência humana: inconsequente se avaliado do ponto de vista de quem protesta, ilimitadamente manipulador no que aos seus promotores diz respeito.
3. Não sendo surpreendente, é apesar de tudo lamentável que PCP, apoiando o gasóleo profissional, e BE, secundando o buzinão, se tenham colocado, nesta questão decisiva para o nosso futuro, numa posição que só pode ser descrita como, literalmente, demagógica.