Finalismos
1. Na última Science et Vie (n.º 1093, Outubro de 2008), um exemplo perfeito do argumento finalista típico do pior funcionalismo: “O dinossauro ‘bico de pato’ crescia rápido para se proteger” (pág. 21). Sob este título ficamos a saber que, demorando apenas 10 anos para chegar a adulto, contra 20 a 30 anos para o tiranossauro, o “bico de pato” teria possibilidades acrescidas de sobreviver apesar do inimigo predador. O erro do título é clássico e conhecido de há muito: não se pode dizer que o facto de o “bico de pato” ter vantagem por crescer mais rapidamente constituía a causa dessa vantagem (crescer mais rápido para ter vantagem). Além de ilógico (como “decidiria” o “bico de pato” crescer mais rápido?) o, o argumento é batoteiro, pois transforma a consequência (vantagem competitiva) em causa (vantagem competitiva).
2. Transposto para a análise do mundo social, o argumento finalista não só continua a ser errado como é, com demasiada frequência, fundamento de conservadorismo. Exemplo: a religião favorece a integração, por isso existe religião, logo sem religião a integração fica em risco. Como se a origem da religião não fosse mais complexa e como se não resultasse da existência de múltiplas outras instituições o mesmo tipo de consequência (favorecimento da integração) — mesmo quando não pretendida.