O Mito das Nações
Da autoria de Patrick J. Geary, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, O Mito das Nações. A Invenção do Nacionalismo foi recentemente publicado em Portugal pela Gradiva (Setembro de 2008). Com menos de 200 páginas de texto, constitui mais um contributo fundamental para a desmontagem das teses primordialistas sobre as nações europeias e das (perigosas) ideologias nacionalistas sobre elas elaboradas.
1. Em primeiro lugar, refutando teses essencialistas sobre “A Nação”: “as afirmações de que ‘sempre fomos um povo’ são na realidade apelos para nos tornarmos um povo — não apelos fundamentados na história, mas sim tentativas de criar história” (pág. 43).
2. Em segundo lugar, salientando a ausência de história nas narrativas construídas para fazer remontar a um passado longínquo, a um mito fundador que se perderia na noite dos tempos, a origem de nações constituídas, no essencial, a partir do século XVIII: “uma história que não se altera, que reduz todas as complexidades de séculos de alterações sociais, políticas e culturais a um único, eterno momento, é tudo menos história” (pág. 178).
3. Finalmente, alertando para as responsabilidades dos historiadores na construção de identidades “assassinas” (para usar a expressão de Maalouf): “a história dos povos europeus, por seu lado, faz parte, ela própria, do problema da etnicidade europeia. Nós, os historiadores, devemos ser responsabilizados pela criação de mitos duradouros em relação aos povos, mitos que são, simultaneamente, persistentes e perigosos” (pág. 163).
4. Pelo meio, uma síntese sobre a história europeia dos séculos IV a IX, período a que remontam boa parte das referências dos mitos sobre a fundação das modernas nações europeias. Particularmente interessante a comparação entre as concepções constitucionais da pertença ao povo de Roma e as concepções étnicas de pertença dos povos que os romanos definiam como outros. Concepções étnicas que começariam por ser mais uma categorização romana dos outros do que uma auto-representação dos próprios.
5. A ler, sobretudo quando o espectro do nacionalismo ameaça, uma vez mais, uma Europa preenchida por identidades saturadas de história e, por isso, indutoras de exclusão. Ou melhor, de narrativas históricas contra a história.