Arrepiar caminho
Estranho muito que o Parlamento possa entender não ouvir o Conselheiro de Estado que foi Administrador Executivo da SLN à qual estava ligado o banco que nacionalizou e, quase ao mesmo tempo, entenda ouvir o PGR que, em relação a tudo o que saiba sobre o "caso BPN", está sujeito a segredo de justiça que seguramente não violará.
O Parlamento já se envolveu no caso BPN: nacionalizou, confrontou Victor Constâncio com o processo de supervisão, ouviu informações que indiciam irregularidades graves, recebeu uma carta do PGR e vai ouvi-lo.
Parece-me que é óbvio que há interesse público em que o Parlamento apure ou pelo menos queira ouvir o que possa ajudar a apurar se houve no grupo SLN comportamentos lesivos do interesse público, ainda para mais quando os suspeitos são figuras públicas com ligações políticas.
Sem medo nem parcialidade, o Parlamento deve contribuir para que os visados que nada de errado tenham feito se possam esclarecer e não sejam amalgamados com eventuais malfeitores, assim como deve ajudar no que puder a identificar tais malfeitores e malfeitorias e agir para que o crime não compense. Convém não esquecer, aliás, que o Parlamento decidiu que os contribuintes pagarão os efeitos dessas malfeitorias.
Mas tudo está a acontecer, pelo comportamento dos diversos protagonistas, como se estivessemos no preâmbulo de mais um "escândalo à portuguesa", daqueles que são extremamente prejudiciais para a democracia e para os visados que estejam inocentes, tanto quanto devem ser eficazes para os seus culpados. Está na hora de arrepiar caminho: sem que eu saiba onde está o trigo e onde está o joio, quero sentir que o Parlamento tudo fez para ajudar a separá-los e não para ser câmara de ressonância de lutas de bastidores mediadas pelo sensacionalismo jornalístico, fontes anónimas ou manobras de baixa política.