Os semeadores de ventos
Há anos que, também em Portugal, se instalou uma opinião segundo a qual a relevância duma organização económica, social ou política é tanto maior quanto maiores forem os conflitos que é capaz de promover e fazer aparecer no espaço mediático.
Evidentemente, os que assim pensam e agem promovem a conflitualidade à custa da governabilidade.
Percebe-se que essa seja a lógica das forças políticas – principalmente, o PCP e o BE - para quem a compatibilidade entre a democracia representativa, á concertação social e a economia de mercado constitui um empecilho estratégico.
E também se percebe que essas forças políticas usem a influência e os recursos de autoridade de que disponham para influenciar as decisões das confederações sindicais, apoiando as organizações e as acções que favorecem os seus desígnios políticos e criticando as que os contrariam. Mas já não me parece aceitável que o façam espezinhando, sem sequer disfarçar, a liberdade e a autonomia sindicais.
O que já é espantoso é que as forças políticas que se reclamam dos valores da democracia liberal e que aspiram a governar o país sacrifiquem a governabilidade no altar do mediatismo de ocasião e apoiem manifestações com objectivos que há uns meses condenaram.
Mais que não fosse porque entre a primeira e a segunda mega-manisfestação dos professores medeia um acordo entre os sindicatos e o Ministério da Educação, é espantoso que a direcção do PSD esteja a semear ventos num domínio em que os custos políticos, económicos e sociais são tão elevados, quer a curto, quer a longo prazo.
É que se as soluções duráveis exigem graus crescentes de consenso - quer na análise dos problemas, quer nas soluções exequíveis - desrespeitar acordos escritos escrits através da força da rua é certamente um péssimo precedente, que põe em causa a representatividade e a utilidade de negociar com quem assim age.
Se o custo não fosse excessivo para o país, sempre gostaria de ver o PSD a regular conflitos sociais sérios – como os da educação - depois de terem contribuído para tornar os sindicatos meros concorrentes dos militantes do sms.
Manuela Ferreira Leite, que talvez ainda se lembre das manifestações estudantis de rabo ao léu, devia saber quanto podem custar à governabilidade do país as tempestades resultantes da acção irresponsável dos semeadores de ventos.
Mas talvez o oportunismo populista tenha razões que a racionalidade institucional desconhece.
Mas, pelo menos até agora, as sondagens de opinião não sugerem que os eleitores apreciem este estilo.