terça-feira, 18 de novembro de 2008

Razões de uma reforma inadiável (1)

Elaborado pela UNESCO, foi agora disponibilizado o relatório Education for All by 2015: Will we Make It?. Tal como o relatório do PNUD, inclui um índice de desenvolvimento, neste caso sobre o desenvolvimento de uma educação para todos (com dados de 2005).

1. Na frente, sem novidades, a Noruega. Portugal inclui-se no grupo dos países com elevado índice de desenvolvimento da educação para todos (EDI, no original). Ocupa, porém, um modesto 40.º lugar entre os 51 países do grupo. À nossa frente, e para além dos países do costume, da Europa ocidental e do Leste, estão, por exemplo, a República da Coreia, o Cazaquistão, a Argentina e o Chile.

2. Para quem não integra o clube dos pessimistas vivos encabeçado por Vasco Pulido Valente, a situação é preocupante. Não porque o desenvolvimento educacional garanta, por si só, o desenvolvimento socioeconómico, mas porque sem o primeiro o segundo fica comprometido. Porém, não chega a verificação do atraso, importa também fazer o exercício da identificação das razões deste. Ora, o índice inclui informação sobre as suas componentes, o que permite a realização do exercício.

3. Na educação, os efeitos de progressão são fundamentais. Convém, por isso, olhar antes de mais para o que acontece no primeiro ciclo do básico, a primária como é mais frequentemente conhecido. Na página 53 do relatório encontramos uma primeira pista sobre as razões de um atraso persistente: os elevados níveis de repetência. Citando: “among developed countries the level of repetition reaches 10% only in Portugal”. Observação feita no final de um parágrafo onde se começa por afirmar que “repetition rates are highest in sub-Saharan Africa, where the median level of repeaters is 15%, followed by Latin America and the Caribbean, and South and West Asia at 5% each (…).” Em Portugal, em 2005, a taxa global de repetência na primária foi de 10,2%, ou seja, o dobro da latino-americana, onde o Brasil fazia figura de excepção com uma taxa superior a 20% (grande herança!), dez vezes a do grupo dos países da Europa do Leste (1,1%) e 34 vezes a do grupo de países da América do Norte e Europa ocidental (0,3%).

Taxas de repetência no ensino primário em países da Europa ocidental, 2005
Fonte: UNESCO (2008), Education for All by 2015: Will we Make It?
[clique para ver ampliado em janela própria]


4. Dificultando a recuperação em vez de a facilitar, esta taxa absurda de repetência precoce limita o desenvolvimento de uma educação para todos nos níveis que se seguem. Como se verá em próximo texto.