quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Desistentes

1. Quando a intervenção do Estado na economia é vista como indesejável mas necessária por colapso dos mercados, o excesso de pragmatismo liquida o mínimo de princípios. Não surpreende pois que ontem o PSD tenha, pela voz do seu líder parlamentar, manifestado tão violenta oposição à troca de dinheiro por regras que o ministro das Finanças quer impor, e bem, aos bancos: o Estado concede garantias à banca mas exige desta que faça chegar o crédito aos agentes económicos.

2. Se Paulo Rangel criticou o condicionamento dos apoios aos bancos, Francisco Louça criticou o apoio aos bancos e propôs a quadratura do circulo: garantir os depósitos nos bancos sem garantir a sobrevivência dos bancos onde estão esses depósitos. Do pragmatismo sem princípios do PSD passámos, num ápice, aos princípios sem pragmatismo do BE. Típico de quem se auto-exclui das responsabilidades da governação.

3. Responsabilidades que exigem controlo real, não discursivo, da evolução da crise. Por isso espanta a crítica de Paulo Rangel: “[o Governo] está a fazer planos para o emprego sem ter ideia nenhuma do desemprego expectável”. Jean Monnet não deixaria de lhe dedicar parte do seu famoso discurso de 1952 sobre a construção da Europa (e já por mim citado no Canhoto): “Nada há de mais estéril que antecipar, no contexto do presente, as questões que se colocarão apenas no futuro, quando o objecto da nossa acção é, precisamente, transformar o contexto actual”.

4. Insistindo na previsão do futuro por troca com a definição do futuro pela acção no presente, o PSD junta-se, por portas e travessas, ao BE, desistindo também das responsabilidades da governação.