A retórica anti-reformista (2)
Para concluir a troca de textos com André Freire (no Ladrão de Bicicletas).
1. À minha afirmação de que a concertação exige não só disponibilidade do Governo mas também dos principais sindicatos, André Freire responde que na educação o problema não é entre Governo e sindicatos mas entre Governo e professores. Pois, mas a concertação faz-se entre organizações com capacidade de representação, não entre uma organização (neste caso o Governo) e uma qualquer entidade inorgânica (neste caso os professores). E não adianta dizer que neste caso os sindicatos foram ultrapassados pelas “bases” e por isso tiveram que romper compromissos e cavalgar o momento. Quanto mais não seja porque uma tal atitude de curto prazo compromete seriamente o essencial do suporte da lógica da concertação: a confiança nos acordos firmados entre as partes. Acresce que o argumento dos sindicatos a deixarem-se arrastar pelas bases para impedir o poder de cair na rua é de um total contra-senso: se a representação não consegue introduzir no movimento um mínimo de racionalidade negocial o poder reivindicativo já está na rua.
2. À minha acusação de enviesamento ideológico André Freire responde que se trata de afirmação que carece de “base empírica” porque há outras pessoas, de “elevado prestígio académico”, acrescenta, que partilham a sua opinião sobre as políticas de educação. Estranho método de validação empírica, o recurso a citações de terceiros, ou seja, o que classicamente se chamam os “argumentos de autoridade”. É, mais uma vez, o primado da retórica, agora surpreendentemente em tom de João Carlos Espada: “são, sem sombra de dúvida, palavras sábias desta prestigiada jornalista”; ou, “José Madureira Pinto (Público de 9/3/08), um eminentíssimo sociólogo português”; ou ainda, “Manuel Villaverde Cabral, outro eminentíssimo sociólogo e historiador português” (sublinhado por mim). Para terminar não falta sequer o recurso à citação do autor do mais conservador pensamento social publicado: “análise contundente do prestigiado filósofo José Gil”. Estilos.
3. Sem comentários a referência ao meu “proselitismo partidário” que se limita a confirmar o fatal “eu socialista? Cruzes, credo, canhoto!”.