A democracia na Guiné Bissau é possível?
Em África, a estabilidade democrática é algo muito dificil de atingir, tornando-se dificil perceber as verdadeiras e profundas motivações por trás dos acontecimentos que tornam muitos dos países ingovernáveis.
Agora foi, de novo, a vez da Guiné-Bissau. No dia em que a Assembleia Nacional da Guiné-Bissau tinha previsto iniciar o debate do programa do Governo de Carlos Gomes Júnior, que obteve 2/3 dos votos numas eleições classificadas por todos os observadores internacionais como democráticas, o Presidente da República, Nino Vieira, foi assassinado por militares, numa aparente retaliação ao ataque da noite anterior ao quartel geral das forças armadas, que culminou na morte de várias pessoas, entre as quais do próprio Chefe de Estado Maior.
Desde 1998 que se sucederam golpes e contra-golpes, tendo as eleições de 2005, que levaram Nino Vieira de novo à presidência, representado um forte capital de esperança para a possibilidade de um regime democrático no país.
Apesar de todas as reservas que em relação a ele havia razões para ter, Nino Viera foi, nos últimos anos, o factor de estabilidade de um País marcado por forte instabilidade, facto a que não é alheia a instabilidade interna do PAIGC. Foi também apontado como causador desta instabilidade dentro do PAIGC, suspeitando-se que esteve por detrás da formação de um novo partido (o PRID) que concorreu às últimas eleições com o objectivo declarado de retirar a maioria absoluta ao PAIGC.
Independentemente do que se pudesse dizer e pensar do que foi a vida de Nino Viera, a verdade é que a sua morte abre um novo período de incertezas para a Guiné-Bissau. Pode dizer-se que não há novidade, mas é trágico, porque estamos a falar de um dos países mais pobres do mundo, com um orçamento de estado inferior à maioria dos orçamentos de organismos públicos portugueses, com gravíssimas carências em quase todas as áreas e onde o narcotráfico conseguiu encontrar o terreno propício para se instalar, para desgraça dos guineenses