Militantes, mandantes e ausentes
1. Justificar o ataque sectário a Vital Moreira com o desemprego e a situação das classes trabalhadoras, como o fez Carvalho da Silva (e, lamentavelmente, o insinuou Miguel Portas) é comportamento oportunista que só não surpreende por vir de sectores que da liberdade têm concepção apenas instrumental. Ataque sectário que não é apenas o lado mau do comunitarismo PC que se manifestaria contra os seus dissidentes, mas o outro lado mau desse mesmo comunitarismo que começa por requerer como condição de militância a renúncia à liberdade individual e ao espírito crítico.
2. Não se tratou pois de acidente mas de afloramento menos bem controlado de característica fundamental de um partido, o PCP, que só sobreviverá enquanto preservar o sectarismo que funda a militância dos seus membros. Objectivamente, o episódio do 1.º de Maio teve pois como mandantes políticos os dirigentes do PCP que cultivam aquele sectarismo e que, por isso, assobiaram para o lado quando questionados sobre o sucedido: a começar pelo secretrário-geral do partido, Jerónimo de Sousa, o qual parece ter esquecido que mesmo quando não vemos, ouvimos e lemos.
3. Grande ausente na intervenção pública sobre este lamentável episódio é o tribuno de serviço à causa do anti-autoritarismo pavloviano: Manuel Alegre. Sempre pronto a denegrir como autoritários actos dos seus adversários políticos, parece conviver pacificamente com a manifestação inequívoca do autoritarismo quando protagonizado por amigos de conveniência. Esclarecedor.