sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Notas finais sobre a campanha

1. O partido rasca. O título cabe por inteiro mérito ao MMS, autor do mais abjecto cartaz eleitoral, no qual se propõe mudar Portugal introduzindo a pena da castração: para este tipo de renovação partidária já tinhamos o PRN. De onde se conclui que o facto de ser novo nada diz sobre a bondade da criatura: nos novos tanto estão as propostas respeitáveis, ainda que controversas, do MEP, como as propostas rascas, ainda que populares, do MMS e de Eduardo Correia.

2. O partido-Estado. Uma das (muitas) vantagens da invenção do mercado foi a diferenciação entre poder político e poder económico e, consequentemente, uma menor concentração de todos os poderes numa única instituição. Foi esta diferenciação, ainda, que abriu a possibilidade de constituir tanto a esfera política como a esfera económica em campos de luta institucionalizados com pesos e contra-pesos específicos. No primeiro caso, através da invenção da democracia liberal; no segundo com a criação de um regime pluralista de relações industriais que abriu caminho à institucionalização da participação de todos os parceiros sociais. Quando o BE apenas vê bondade no Estado e maldade no mercado, abre caminho à concentração progressiva do poder num único campo, com o consequente risco de totalitarismo que sempre emergiu quando esse caminho foi até ao fim percorrido. Regulação política dos mercados não é o mesmo que controlo estatal da economia, e só é possível introduzir justiça na economia quando essa confusão é evitada.

3. O partido do medo. Não há crescimento sem endividamento. Qualquer empresário, pequeno, médio ou grande, o sabe desde sempre. Agitar em abstracto o fantasma do endividamento é o mesmo que recusar a utilidade económica do sistema financeiro, em geral, e dos bancos, em particular. O problema não está no endividamento mas nas razões desse endividamento: quando o aumento do consumo é o seu principal objectivo, o endividamento é frequentemento um problema, podendo levar à ruína milhares de indivíduos; quando a aventura militar está na sua origem, o endividamento pode arruinar estados e não apenas indivíduos, como o exemplo histórico ilustra repetidamente; quando o investimento é o seu objectivo o endividamento pode ser virtuoso. Importa por isso analisar os investimentos que estão na origem do endividamento para avaliar a sua razoabilidade. E avaliá-los tendo em conta que, no fim, algum risco existirá em qualquer investimento, por mais controlado que ele pareça à partida. Quando o PSD apenas vê riscos no endividamento e ignora as vantagens económicas do investimento público, comporta-se como um partido conservador que, traindo a sua identidade reformista, dificilmente estará em condições de induzir dinâmicas de desenvolvimento num país que delas precisa com urgência. O medo nunca fez avançar o mundo.

4. O PS merece ganhar as eleições. E merece-o porque é o único partido com possibilidades de governar que dá garantias de poder contribuir politicamente para a modernização do país. Porque defendendo a regulação da vida económica e a sustentabilidade das políticas sociais não tem do mercado a imagem negativa do BE. Mas também porque sabendo não haver progresso sem riscos recusa a auto-paralisia sugerida pelo PSD e aposta forte, num momento de crise grave, na promoção pública das condições de modernização da sociedade portuguesa.