quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O maravilhoso país da soma

1. Já conhecíamos as propostas, à PC e à CDS, de redução dos impostos (ou não aumento dos mesmos) e de ampliação do fornecimento de serviços e bens públicos. Propostas só possíveis de concretizar, como se sabe, no maravilhosos país da soma, onde a subtracção é uma operação lógica e empiricamente impossível. Nesta campanha eleitoral ficámos a conhecer duas novas variantes daquelas velhas propostas.

2. A primeira foi lapidarmente apresentada por Francisco Louçã nos debates televisivos. Consiste em, através da nacionalização de empresas-chave no domínio da energia, aumentar a receita do Estado, por apropriação pública dos dividendos gerados por uma Galp nacionalizada, e, simultaneamente, diminuir os custos públicos da energia, baixando os preços praticados por aquela empresa. Ficamos sem saber como é que com preços de venda dos combustíveis mais baixos poderia a Galp gerar os mesmos rendimentos que hoje gera e que Louçã reclamou para aumentar a receita do Estado. Enigmas do maravilhoso país da soma, o único em que a redução dos preços de venda de um produto não se subtrai aos resultados operacionais da empresa que os pratica.

3. A segunda variante é mais sofisticada, procedendo à anulação do tempo. Paulo Rangel explicou-a com clareza: é possível reduzir impostos e taxas sociais e aumentar as prestações sociais suspendendo o que designa por “megaprojectos” (tipo TGV). O problema é que os tempos de diminuição da receita por via fiscal e de aumento da despesa por aumento das prestações sociais coincidem, mas a poupança com a suspensão dos grandes projectos só se faz sentir dois ou três anos depois. O maravilhoso país da soma é pois, neste caso, um país sem tempo, o único em que a proposta do PSD não será uma proposta de explosão do défice das contas públicas.

4. E pronto, o mundo está de pernas para o ar. A proposta do BE de aumentar as receitas do Estado com os rendimentos da nacionalização da Galp & Companhia só é possível com um Estado ganancioso nos mercados energéticos. A proposta do PSD de baixa dos impostos com a promessa de manutenção ou mesmo ampliação das prestações sociais é uma proposta de aumento brutal do défice das contas públicas, pelo menos nos próximos dois, três anos. A crise é, pelos vistos, mais grave do que pensávamos…