domingo, 6 de novembro de 2005

Os nossos bairros continuam a crescer


1. A escola é, por definição, um dos primeiros quadros em que os comportamentos disruptivos juvenis se manifestam. Aos que hoje se surpreendem com o que se passa em Paris, vale a pena lembrar que o fechamento social em meios sociais homogéneos e fortemente estigmatizados precedeu esta reacção e que os sintomas se acumulam há muito tempo.
O Rui Pena Pires lembrou ontem os efeitos da não integração dos imigrantes na comunidade nacional.

2. A construção das pátrias de refúgio dos cidadãos que se desiste de integrar atravessa os fenómenos da vida social e tem na intolerância religiosa um factor de ancoragem historicamente recorrente.
Para ajudar à compreensão do que se passa em França vale a pena ler
este relatório da sua Inspecção-geral da educação, de 2004, que abordou de modo impressivo e preocupante os fenómenos de intolerância religiosa nas escolas das comunidades segregadas.
Quem pensa que o que está em causa é apenas o comportamento dos jovens islâmicos, engana-se, embora entre estes a gravidade da situação a que se chegou pareça maior.
Uma das mais importantes conclusões conduz a um apelo à acção promotora da mistura social (e, consequentemente, religiosa)nas escolas. Só surpreende que o apelo já seja necessário e desta forma.

3. É natural que cada um procure intervir onde e como pode, mas convém recordar que há uma grande responsabilidade das políticas públicas de habitação na construção da probabilidade de encontrar os meios cujos efeitos nefastos se pretende contrariar na escola.
Depois do desastre sociourbanístico dos "projects" americanos, com os seus gangs, a Europa está a viver o das cidades "HLM", com a intolerância religiosa e a recusa de valores democráticos fundamentais.

4. Os nossos bairros continuam a crescer.