sábado, 5 de novembro de 2005

Trata-se de eleger um Presidente da República

Há muitos argumentos que podem justificar a candidatura presidencial de Manuel Alegre, mesmo depois de o seu partido ter decidido o candidato que apoiava. Mas há um que me tem sido repetido por militantes do PS que não conduzirá a lado nenhum.
As eleições presidenciais não são a segunda volta da eleição interna para Secretário-Geral. Nesta, Alegre perdeu e por muito. Se nessa derrota, em que também estive, houve lamentáveis comportamentos de controlo aparelhista por parte dos vencedores, é inegável que a vontade dos militantes era, naquele momento, aquela.
Estas eleições também não são a oportunidade de vingança sobre esse tal controlo aparelhista. Primeiro, porque o candidato apoiado à esquerda que quiser ganhar as eleições tem que pedalar muitissimo para além, mas com, todo o PS e não o fará resmungando contra ele. Segundo, porque Mário Soares está há muito afastado de qualquer aparelho partidário em geral e do que hoje controla o PS em particular.
Manuel Alegre já demonstrou que ocupa nestas eleições um espaço político próprio, que mobiliza sectores culturais específicos, que apela aos espíritos de esquerda que se movem entre franjas do PS, da CDU (neles incluidos muitos compagnons de route e até militantes desiludidos com o PCP) e do BE. Demonstrar porque se distingue o projecto presidencial que move estas pessoas será o próximo passo do candidato, se quiser passar além do quadrado interior. Dizer que é porque o PS tomou uma decisão que consideram errada, que querem corrigir, repetindo um tique, frequente à esquerda, de tentar tutelar as escolhas deste partido sem participar nele ou depois de nele ser derrotado, é apoucar simultaneamente o PS, Soares e o próprio Alegre.