sábado, 28 de junho de 2008

A onda do facilitismo

1. Depois de ter contaminado os países nórdicos e a OCDE (ver “Facilitismo generalizado”) terá chegado agora a França, infectando gravemente o Governo de Sarkozy. Só assim se explica que este proponha uma reforma em que se reclama uma maior aproximação do que se fará em França ao que se faz já nos países nórdicos, nomeadamente substituindo a repetência por módulos complementares de trabalho de recuperação dos alunos.
Mais grave ainda, o facilitismo terá penetrado mesmo uma instituição universitária que, em geral, é apontada como exemplo de excelência. De facto, Vítor Teodoro, coordenador da Divisão de Educação da Sociedade de Física, é citado pelo Expresso como tendo afirmado que “os testes do MIT têm perguntas do 9.º ano em Portugal”.
Vítor Teodoro é aliás culpado por questionar a percepção de que “antes é que era a sério”, desrespeitando assim um dos pilares do sentimento geracional de superioridade em relação aos jovens de hoje, ao afirmar “que o exame de físico-química de 1972 foi muito mais fácil” do que o exame de 2008. Pior, deste modo instalou a dúvida, insidiosa e angustiante, de que a onda do facilitismo tenha começado “antigamente”, muito antes da tomada de posse do actual Governo.

2. Mais a sério, agora. Quando se qualifica algo como facilitismo é batota fazê-lo sem identificar padrões de referência. Se se ignoram as referências que resultam das comparações com outros países e instituições ou com outros tempos no nosso país, a qualificação baseia-se, simplesmente, no preconceito ou no interesse político-partidário de uns quantos.
Facilitismo existe sim, mas na leviandade com que se fazem críticas de facilitismo. Facilitismo é o que se lê nos discursos de Nuno Crato e de José Manuel Fernandes, reclamando mais insucesso. Facilitismo é o modo como se fazem títulos opinativos em artigos do Público ou do Expresso, ignorando inclusive as polémicas entre peritos por vezes relatadas debaixo desses mesmos títulos de opinião.

3. A acusação de facilitismo é, em rigor, a arma retórica usada por aqueles que reagem à generalização do sucesso como excesso de sucesso, a arma dos que gostariam de reservar para si e para os seus o acesso aos benefícios da educação. A onda do facilitismo é a onda das acusações de facilitismo, uma onda ideológica radicalmente conservadora e elitista.