sexta-feira, 25 de abril de 2008

Facilitismo generalizado

Tinha-me escapado o editorial de José Manuel Fernandes de 22 de Abril. Mas como o tema que nele se trata está a ser, persistentemente, colocado na agenda pública, vale a pena uma apreciação tardia. Tanto mais que a data é apropriada.


1. Primeiro, as boas notícias. Segundo José Manuel Fernandes, “deve ser difícil encontrar duas entrevistas mais contrastantes sobre como se deve ensinar e sobre o que é um bom sistema de Educação do que as que deram, no mesmo dia […], a ministra da Educação […] e Nuno Crato […]”.


2. Depois as más notícias. Crato & Fernandes continuam a sua cruzada em favor da legitimidade e utilidade do chumbo e da repetência: o aluno não aprendeu o essencial, não deve progredir. Não querem entender que: (1) se um aluno não está a aprender o essencial deve ser apoiado para não ficar para trás; (2) com algumas falhas de aprendizagem é mais fácil recuperar passando do que repetindo. Estas afirmações não são ideológicas: baseiam-se nas boas práticas internacionais que tardam a ser generalizadas em Portugal, apesar do enorme progresso ocorrido depois do 25 de Abril.
Alguns dados para que se perceba de que se fala quando se assinalam, simultaneamente, progressos e défices: entre 1977 e 2007, a taxa de retenção/abandono no actual primeiro ciclo do ensino básico (a “primária”) passou de 60% para 10%; no final deste mesmo período de 30 anos aquela taxa era, na Finlândia, inferior a 1%.


[As repetências segundo Crato & Fernandes]

Substituir o facilitismo do chumbo pelo investimento na recuperação dos alunos (que não é o mesmo que passá-los de qualquer forma) é também a orientação defendida num documento recente da OCDE: No More Failures: Ten Steps to Equity in Education (OCDE, 2007).

No sítio desta organização, o documento é assim apresentado: “No More Failures challenges the assumption that there will always be failures and dropouts, those who can’t or won’t make it in school. In fact, initiatives in many countries demonstrate that it is possible to successfully tackle school failure and dropout rates – and to reduce the huge social cost of adults without basic skills”. Consultando o sumário executivo daquele documento, encontra-se, entre outras, a seguinte conclusão: “Step 5: Identify and provide systematic help to those who fall behind at school and reduce high rates of school-year repetition. […] Although year repetition is often popular with teachers, there is little evidence that children gain benefit from it.


3. Para Crato & Fernandes só resta uma conclusão: o “facilistismo” generalizou-se. Aumentou com o passar dos tempos, assentou praça no Norte da Europa e, por fim, contaminou até uma organização como a OCDE.
Só lhes falta mesmo o orgulhosamente sós…