E a Espanha aqui tão longe
1. Em 2008, havia mais de cinco mil quilómetros de linha de alta velocidade na União Europeia (5.764 km para sermos mais precisos), distribuídos por seis países: França (1.893 km), Espanha (1.594 km), Alemanha (1.300 km), Itália (744 km), Bélgica (120 km) e Reino Unido (113 km). Na mesma data, estavam em construção mais 2.352 km de vias de alta velocidade, 45% das quais na Alemanha e 31% em Espanha. A Holanda integrou entretanto o espaço da alta velocidade com a abertura, este ano, da linha entre Amesterdão e a fronteira belga (120 km).
2. Até 2012, deverão estar concluídos os novos 734 km de via de alta velocidade em construção em Espanha, ampliando não só as ligações internas como as ligações a França e, assim, à rede europeia, quer a Norte (via País Basco) quer a Sul (via Catalunha, esta com conclusão prevista ainda para este ano). Até 2012, Portugal verá pois reforçado o seu estatuto periférico na Península Ibérica, situação que poderá ser de longa duração, se continuarmos a adiar o TGV, ou temporária, se o mesmo desemburrar de vez.
3. Em muitas dessas linhas, os comboios de alta velocidade farão várias paragens, ao contrário do mito nacional da impossibilidade de rentabilidade da alta velocidade com escalas. Como, aliás, já o fazem hoje, em especial na Alemanha: é só experimentar viajar no ICE. Em todas elas, as taxas de utilização crescerão rapidamente como cresceram no passado: em 2007, 60% dos utilizadores da ferrovia em França viajaram em comboios de alta velocidade, e 28% em Espanha e na Alemanha. Caso típico de uma oferta que cria novas procuras antes desconhecidas.
4. Há, porém, quem teime em pensar ser a alta velocidade inviável por recusar a possibilidade de o futuro poder ser radicalmente diferente do presente e, portanto, impossível de extrapolar a partir da observação das tendências actuais. Típico do pensamento conservador.
[Fonte dos dados usados: European Commission (2009), EU Energy and Transport in Figures: Statistical Pocketbook 2009, Luxemburgo, Office for Official Publications of the European Communities, pp. 124 e 150].