sexta-feira, 10 de junho de 2005

Na praia de Carcavelos

Os acontecimentos de hoje em Carcavelos têm que ser analisados com urgência, para terem resposta atempada, com rigor, para terem resposta adequada, e com cautela, para terem resposta eficaz porque com efeitos perversos limitados.
O que parece saber-se: algumas centenas (?) de jovens, maioritariamente negros oriundos de bairros degradados da periferia de Lisboa, terão concertado um assalto por arrastão na praia de Carcavelos. A confirmar-se o número, terá sido uma acção de delinquência juvenil, não de marginais criminalmente organizados.
A explicação provável: não se trata simplesmente de um acto de jovens em situação de exclusão social. Não podemos cair no risco de um mau “sociologuês”, criminalizando a pobreza. O que se passou terá sido obra de jovens vivendo não só em situação de exclusão e sem expectativas de saída dessa situação, como, sobretudo, de jovens sem referências de solidariedade para com o conjunto da colectividade e com um fraco grau de controlo social sobre o seu comportamento delinquente.
A segunda parte da explicação terá que ser sobre a origem dessa falta de referências e de controlo social. A resposta terá que ser procurada na persistência de políticas que produzem desidentificação nacional entre os imigrantes e os seus descendentes e que convivem com um urbanismo produtor de guetos, tanto no plano nacional como, sobretudo, no plano municipal.
Pensar que essas políticas têm a vantagem de dissuadir o crescimento da imigração é duplamente irresponsável. Por um lado, porque sob o seu efeito a imigração não só não decresce como adquire um carácter irregular — e assim perde o Estado capacidade de regulação. Por outro lado, porque os problemas de desintegração que gera se acumulam — e assim perde o Estado capacidade de promover a coesão social e nacional. Ou seja, assim se perde Estado, nação, colectividade. Como ano após ano se tem, sempre, confirmado.
Se nada for feito no sentido de alterar, radicalmente, as políticas referidas, que (más) provas já deram, apenas de uma coisa poderemos estar certos: os problemas estão só a começar.