O socialismo kleenex
Vasco Pulido Valente (V.P.V.) criticava há tempos, no Público, o que apelidava de “socialismo remendão”. Com esta fórmula dava conta da sua discordância do gradualismo e minimalismo políticos que caracterizariam a actuação do governo em funções. Em consequência, argumentava, ficariam por enfrentar os GRANDES problemas nacionais que, presume-se, só seriam resolvidos com GRANDES planos de acção. Não importa a V.P.V. analisar a eventual radicalidade de medidas pontuais tendo em conta a eventual amplitude e radicalidade dos seus efeitos e não a amplitude e radicalidade dos seus enunciados e instrumentos.
A oposição de princípio de V.P.V. à prática governativa, deste como de qualquer outro governo, condu-lo a bramar contra a política das “meias-solas” quando, em alternativa, seria necessário, segundo a sua convicta opinião, deitar fora o sapato velho e comprar um novo. Aceitando a metáfora, presume-se que V.P.V. apoiaria um vistoso “socialismo kleenex”, um socialismo orientado pela máxima “usar e deitar fora”. Perdia-se o conhecimento acumulado pela experiência “remendona” e partia-se, alegre e decididamente, para o sistemático lançamento de políticas radicalmente novas, não importando a eventual multiplicação de efeitos perversos em larga escala.
Mas sejamos justos. Claro que V.P.V. não acredita nas virtualidades desta alternativa (nem, porventura, nas de qualquer outra). Basta ler o artigo em que criticou os objectivos anunciados por Manuel Maria Carrilho aquando dos primeiros anúncios da candidatura deste à Câmara Municipal de Lisboa, para nos rendermos à justeza do “socialismo remendão” e fugirmos a sete pés das ameaças do “socialismo kleenex”.